sexta-feira, 1 de agosto de 2008

The End: O Primeiro de Janeiro (1868-2008)

Digam o que eles disserem, eu estou como a maioria: o jornal Primeiro de Janeiro, tal como conhecemos, morreu hoje.


A noticia tinha sido divulgada em alguns sitios durante a tarde, mas só foi confirmada esta noite. Coloco aqui alguns excertos do artigo sobre o assunto vindo do jornal Público:

A desconfiança pairava na redacção. Os jornalistas temiam o pior quando a directora de “O Primeiro de Janeiro”, Nassalete Miranda, hoje convocou uma reunião geral. “O jornal vai fechar”, comentava-se em surdina. Não foi bem isso. Miranda disse que o jornal seria suspenso durante o mês de Agosto, e que era preciso “tempo para a modernização”.

Os trinta trabalhadores seriam despedidos em bloco. Nenhum teria direito a receber uma indemnização. Accionar-se-ia o fundo de garantia salarial. Os que desejassem seriam contratados para a nova empresa, o novo jornal seria feito com uma equipa mais ou menos do mesmo tamanho. E a aposta continuaria “a ser no noticiário do Porto, da região Norte e da cultura”.

Sábado, “O Primeiro de Janeiro” já não sai. Nervosos, os trabalhadores arrumaram as suas coisas dentro de caixas. À porta, fumavam-se muitos cigarros, discutia-se muito o futuro. Há quem ali já trabalhe há 14 anos.

Ao mesmo tempo, na empresa que trata dos cadernos especiais e da publicidade do jornal, era apresentado um novo projecto que mantinha o título d’ “O Primeiro de Janeiro”. O periódico renasceria com novo grafismo e com um aumento de tiragem de 20 mil para 50 mil exemplares. Foi mesmo mostrado o novo cabeçalho, no qual se faz referência aos 140 anos do título e se inclui o slogan “ontem, hoje, amanhã”. A aparente contradição entre o despedimento em bloco da redacção e o anúncio do novo projecto leva alguns jornalistas a admitir que possa estar a ser preparada a conversão do Janeiro em gratuito.

Já agora, coloco aqui um testemunho pessoal: no ano passado, estive por um triz para entrar lá. Respondi a um anuncio, sem saber muito bem ao que era, e fui parar a uma zona industrial, no caminho do Aeroporto Sá Carneiro, longe como tudo na zonda do Porto. Ao lado, tinha um motel e um bairro popular. A ideria era trabalhar nos suplementos do jornal. Suplementos institucionais, com um salário de 500 euros mensais. Depois de ver os prós e os contras, recusei a oferta, pois sabia que no final do mês ainda teria que pedir dinheiro para sustentar os transportes, por exemplo... isto, se não arranjasse casa por perto, provavelmente com uma renda aberrante!

No final, tenho pena dos que lá estavam. E tenho pena que mais um título histórico se extinga. Mas também, há anos que se definhava... e há muitos jornais assim. De memória lembro dois semanários: O Diabo e O Semanário. Quem os sustenta?

E digo mais: tal como isto está, o jornalismo escrito vai-se reduzir, qualquer dia, a dois ou três jornais diários nacionais, sustentados em grupos, e uma míriade de gratuitos... hoje em dia, tirando os desportivos e os económicos, parece que não vale a pena sustentar um projecto jornalistico independente...

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