quarta-feira, 18 de junho de 2008

Abel e Natália - Parte 2

(continuação do capitulo anterior)

Abel espreitou a mesa cheia de comida, mas sem sinal de algum "six pack" ou alguma cerveja isolada. De imediato, foi direito ao frigorífico, na esperança de ver algum ou algumas cervejas geladinhas. Debalde. Não havia. Assim, rumou a caminho da dispensa, onde sabia que havia "six packs" para dar e vender. Abriu a porta, e viu-as, mas nem deu tempo para as contemplar, pois sentiu uma mão pelas costas a empurrá-lo para dentro, e logo a seguir, viu Natália a pegar na maçaneta da porta e a fechá-los dentro. Logo a seguir, ela acende a luz e beija-o de forma louca e apaixonada, quase às escondidas. Parecia que a chama nunca se tinha apagado, apenas baixado. E agora, naquela tarde quente de Verão, estava mais acesa do que nunca. Ou seria do calor?

Abel encostou-a à parede e pôs as mãos nas coxas, no sentido de a levantar no sentido da cintura. Notou que ela não tinha nada por debaixo daquele colorido vestido creme, tijolo e castanho, desenhado em padrão. Depois daqueles momentos reveladores, a realidade veio ao de cima, quando ele disse:

-Aqui não. Aqui não.
- Porquê?
- Pensam que nós retomamos. Mas não é bem assim, pois não?
- Bom... acabei com "mi novio"
- Hã?
- Si, es verdad
- Mas não te ias casar em breve?
- Si, pero... ele acabou con mi. Cambiado con otra.
- Hã?
- Quando é que foi isso?
- Dos semanas
- E foi por isso que vieste para cá? Esquecê-lo?
- Como? Mi português ya me escapa.
- Olvidarlo... esquecê-lo. Percebes, Natália?
- Sim. Desculpa, afirmou, num português com sotaque. E desculpa por te ter atirado em ti, Nem sei se tens novia.
- É namorada, Natália. E não, não tenho namorada. Tou muito ocupado para ter namorada.
- Ah pois... o teu trabajo de professor.
- Tou a ver que a Luisa ou o Marco te contam tudo.
- Nunca me olvidei de ti, cariño.
- Acredito. disse, antes de dar um beijo na boca.

Ela já se ia lançar de novo a ele, mas entretanto, com uma das mãos, tinha pegado num "six pack" e metido à frente dela, largando-a no chão. Sorriu e disse:

- Cariño, para todos os efeitos, nesta festa somos bons amigos. Está bem?
- Si, accepto.
- E vê lá se recordas do português, tá bom? Se portarmos bem, recordaremos todos os bons tempos e mais alguns. Agora as tuas amigas..
- Não te preocupes. Elas se divertem solas, sin mi.
- São tuas colegas de TV?
- Só a Olivia. A outra é a amiga dela. É psicóloga, só a conheci hoje.
- Hmmm... Vai dar brado. Não sei porquê, tem cara de caçadora. Toma, fica com este, assim dás uma boa explicação pelo facto de estarmos na dispensa, disse, depois de dar um "six pack" para as mãos dela, enquanto que ele pegava noutro.

Sairam da dispensa e tiraram as cervejas do cartão que as segurava. Meteram-nas no frigorífico, como se nada tivesse passado. Se alguém notou, nada disse, mas ninguém os incomodou sobre isso depois de terem saído da cozinha. Foram para a sala, como dois bons amigos, fizeram as conversas com os vários amigos sobre as suas vidas, as vidas deles, as aventuras e desventuras de uns e outros. Uns contavam os negócios que quase iam abaixo, outros relatavam estórias de casos perdidos e piadas de tribunal, outros falavam das contingências dos directos, com e sem fios, e telepontos que não funcionaram na "hora H", ou as noticias de última hora, ou então, as respostas do outro mundo a perguntas tão simples sobre os factos da história.

Lá fora, apesar da noite ter caído, o calor não dava muitos sinais de abrandar. Abel já tinha bebido algumas cervejas, mas tinha sempre em mente que não podia exagerar, pois ia a conduzir para a sua casa de solteiro, um T2 acolhedor, embora cheio de livros, CD's e DVD's, mas com bom gosto decorativo, graças à namorada do Marco, que tinha mandado há muito Economia às malvas, e aberto um gabinete de design de interiores. Foram lá para fora, pois poucos poderiam aguentar lá fora, e Abel reparou de novo com ela, com olhos de ver. Para além do cabelo arruivado, pintado, dos olhos azuis e do sorriso desarmante, via-se uma pele branca, a contrastar com a pele morena de Abel, os seios redondos, nem grandes nem pequenos, e os bicos que se notavam , apesar do vestido não ser transparente, e o padrão disfarçar um pouco a situação. O rabo não era pequeno, era até redondo, não tão generoso como as "bundas" das africanas, mas não desgostavam ninguém. As sandálias pretas de pele, onde se mostra quase tudo, denunciavam algo que ele desconhecia: uma tatuagem tribal, que se assemelhava a aquela que a Pamela Andersson tinha no braço. Intrigado, perguntou:

- Engraçado. Quando é que a fizeste?
- O quê?
- A tatuagem.
- A... Ah! Quando acabei o curso. Tive um "novio" motoqueiro e fiz essa coisita. No podia ter brincos na lengua, fiz esto. E tenho mas dois, afirmou. Aqui, disse, levantando o cabelo e mostrando uma rosa na nuca, tapada pelo cabelo, e aqui, apontando, com o dedo, na zona abaixo do umbigo. Tem uñ corazon de fuego, disse, segradando ao ouvido de Abel. Te gusta?

Abel sorriu abertamante. Para ele, era como se estivesse a voltar aos bons velhos tempos, os tempos onde na residência onde os amigos estavam, chegava a haver "concursos" para saber qual era o casal que mais gritava no acto. Naquele ano, Marco já conhecia e namorava com Luisa, chegando até a pedir a Abel, que por sorte tinha ficado com o quarto maior, e era a unica com cama de casal (cortesia do pai) para que ele fosse dormir no quarto dele, para que Marco e Natália pudessem "fazer o amor" (Ao menos com outros lencois! Não quero acordar com cheiro a cona e nhanha!). Quando Abel conheceu Javier, através de Marco, estes organizaram uma festa Erasmus na residência, onde Abel conheceu Natália, a madrilenha filha de professora e de jornalista, que tinha feito parte da primeira redacção do "El Pais", e depois deputado municipal no Ayuntamiento de Madrid, pelo PSOE. Tierno Galvan, Felipe Gonzalez, Alfonso Guerra e outros eram visitas frquentes enquanto crescia despreocupada e feliz.

Foi para a Compustelense, e quando viu que podia fazer Erasmus na Universidade Livre de Coburgo, nem hesitou. Para além de conhecder o mar, conheceria outras culturas e outros ambientes. No final, até perdeu a virgindade...

Quando a contou, na noite em que conheceram e se beijaram, que nunca tinha feito amor na vida, Abel ficou petrificado, mas não demonstrou. Estava mas é preocupado com outra coisa: não tinha preservativo! Não que ele fizesse sem protecção, mas ele não tinha tido nenhum caso na Universidade desde que entrara. Só não era virgem porque no Verão entre a Secundária e a Universidade, conheceu umas francesas, graças ao Marco e ao Alvaro, e uma delas, na altura com 21 anos, a Nicole, deu-lhe a experiência necessária para que não ficasse pertubrado numa próxima oportunidade. O velho amigo Marco veio em seu auxílio, dando-lhe não um preservativo, mas uma embalagem completa...

Depois do inicio, era umas vezes. E depois eram todos os dias, quase todas as horas. Certo dia, estando sozinhos em casa, às quatro da tarde, depois das aulas, foram para a cozinha, onde tinham as calças em baixo, e ela estava em cima da mesa, gemendo de prazer. Ora, no momento em que quase se vinha, apareceu Luisa, de surpresa, e soltou um gritinho e fechando os olhos, devido ao espectáculo que tinha acabado de assistir! Os amigos souberam logo, e a partir dali, antes de se sentarem na mesa, Marco punha o nariz na borda da mesa, e declarava solenemente: Já se passaram... dias sobre o acontecimento e ainda cheiro a cona da Natália! A seguir, todos se riam, incluindo um inicialmente envergonhado Abel, que depois aderiu à brincadeira.

Mas um dia, foi a vez de Marco ser apanhado com a Luisa "em flagrante"... por Abel e Natália, no mesmo local do crime. A partir dali, decidiram criar um clube exclusivo, o "Clube da Mesa Branca", onde se declaravam "Confrades da Pranchada" aqueles que tivessem feito a bela da queca na mesa branca da cozinha. Mais tarde, Alvaro, Javier, Rui e Gilberto seguiram o camnho, embora no caso deste último, foi mesmo o último confrade, pois quando cumpria os requisitos, a velha mesa não aguentou e foi-se abaixo das canetas. Felizmente ninguém ficou magoado, mas as inscrições para aquele clube estavam encerradas.

Por volta das 10 e meia, as luzes apagaram-se e começou a ser visto um bolo com as velas acesas e os fogachos a iluminar a sala. Luisa segurava o bolo, começava a cantar: Parabéns a Você, Nesta data Querida...

Todos aplaudiam e cantavam. Quando chegou à parte dos "muitos anos", os homens elevaram a voz e cantaram: "muitos anos sem sida!" Muitos sorrisos e alguns gargalhadas depois, a cantilena continuou até ele apagar as velas. Feito o ritual, todos começaram a cantar: discurso! discurso!

- Antes de fazer o discurso, vamos cantar de novo os anpos em Espanhol, para os nosso amigos que vieram de longe. Embora! Cumpleaños Feliz, Cumpleaños feliz...

E lá foram eles, cantar a versão espanhola do aniversário. Depois disto tudo, Abel foi para a casa de banho, pois estava aflitinho para descarregar a bexiga. Entrou no quarto, acendeu a luz, abriu a tampa e despejou a bexiga pela sanita abaixo. Enquanto despejava, aliviado, com uma mão na parede, não notara que Natalia tinha vindo atrás dele, e fechara a porta da casa de banho. Estava encostada na porta e quando a viu, não deixou de apanhar um pequeno susto. Já vira que estava determinada a tê-lo nas suas mãos, ou noutro local qualquer do corpo dela.

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