Passemos quatro anos e poucos meses no tempo, desde o brutal assassinato de John F. Kennedy, e chegamos ao inicio de 1968. Nesses quatro anos e pouco, o seu sucessor, Lyndon Baines Johnson (LBJ) envolvera-se numa guerra sem fim num sítio recôndito do Sudeste Asiático chamado Vietname.
Desde 1945 que esse antiga colónia francesa se tentava libertar do jogo colonial francês, o que conseguira nove anos depois com a vitória sobre o exército francês na Batalha de Diem Bien Phu. Nesse ano, foram firmados os Acordos de Genébra, que permitiram a divisão do Vietname pelo paralelo 17, entre o Norte comunista, e o sul ocidental. Só que esse Sul era na prática uma ditadura corrupta, que precisava incessantemente do auxilio americano para resistir às investidas comunistas, pois estes não tinham desistido do sonho da reunificação.
Em 1963, o então presidente Diem foi assassinado, num golpe de estado palaciano, e os americanos ajudavam o país em incessantes hordas de "conselheiros", um eufemismo para dizer tropas. Kennedy sabia mais ou menos que o Vietname era um atoleiro e hesitava em intervir militarmente. Mas no ano seguinte, o seu sucessor aproveitou um incidente com dois patrulheiros da US Navy para colocar dezenas de milhares de tropas no Vietname do Sul. Começava assim a intervenção americana.
Passaram-se mais de três anos, e a situação no terreno estava num impasse. Os mortos e feridos chegavam às dezenas, a contestação começava a brotar nas universidades e na juventude esclarecida, que queria por todos os meios evitar perder a vida num remoto canto do qual nunca tinham ouvido falar antes. Muitos rasgavam os seus "Draft Cards", os cartões de recrutamento, e numa altura em que o Flower Power desabrochava com a sua poderosa mensagem "Make Love, not War", era provavelmente um dos momentos mais excitantes do século XX.
Em finais de Janeiro comemora-se o Tet, Ano Novo Vietnamita. Nessa altura, os combates diminuem de intensidade, pois as pessoas estão mais preocupadas em comemorar mais um Anov Novo do que pegar em armas. Mas o ano de 1968 ia ser diferente: o exército Vietcong (os "VC's" ou "Charlies" no calão militar) decidiu surpeender os americanos nesse preciso dia, e conseguiu: nos vários dias a seguir, a guerra tinha chegado ao centro de Saigão, com combates a decorrer, imaginem-se, dentro da embaixada americana!
A ideia era tentar ganhar aos americanos no seu próprio terreno e inflingir um poderoso golpe não só à América, como ao mundo ocidental, numa altura de Guerra Fria. Nâo o conseguiram, mas o embaraço foi o suficiente para, por exemplo, os soldados americanos andarem mais de um mês a tentar escorraçar os VC's da cidade imperial de Hué, perto do famoso paralelo 17.
Cronkite foi nessa altura a Hué, para ver os combates "in loco", e chegou à conclusão que aquela guerra não estava a ser ganha, nem se ia a lado nenhum com um conflito que só trazia mortos e estropiados para casa, era um desperdício de meios militares, e já começava a ser contestada em casa. No final de um "Special Report" feito por ele, no regresso ao seu estúdio em Nova Iorque, afirmou que aquele conflito só seria resolvido numa mesa de negociações, pois uma maior escalada da guerra seria como abrir numa perigosa "Caixa de Pandora" que poderia resultar, num caso extremo, "um conflito de proporções cósmicas".
Ao ouvir estas palavras, o presidente Johnson terá dito: "se perdi o Cronkite, então perdi a América". Poucos dias depois, a 31 de Março de 1968, fez um discurso à Nação onde disse uma frase que chocou muitos: "Não procurarei, nem aceitarei, a nomeação democrata para um novo mandato para ser Presidente dos Estados Unidos da América". Quase a seguir, o senador Robert Kennedy (RFK), irmão de John Kennedy, anunciou que iria concorrer a presidente.
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